REVISTA POLICHINELLO, V.14

As experiências que cortam esta edição da Polichinello enunciam, para além das formas, uma erupção de linhas que se dobram numa confluência na qual as fronteiras são estiradas a uma situação-limite, de tal maneira que as forças em jogo não cessam de divergir e de convergir, numa prática que afirma núpcias da diferença. A literatura termina por dar lugar à sua própria pluralização – trata-se não mais do universo literário, mas do plural que reúne, em um conjunto heterogêneo, experimentos da escrita. Uma pluralidade fundada não na igualdade ou na desigualdade, nem na predominância ou na subordinação, tampouco na mutualidade recíproca, mas na dissimetria e na irreversibilidade. A questão não é cultivar alinhamentos identitários ou geracionais, e sim inventar encontros animados por um ‘desejo de outramento’, isto é, encontros entre escritas que se atualizam por diferentes maneiras de invenção, numa experiência da multiplicidade na qual os estilos pulsam, efetivamente, numa intensa diferencialidade. Experimentos cujo comum é a impossibilidade de cessar as forças que movem a escrita, sobretudo de aceitar a escrita como túmulo da literatura. Escrever – literatura – é uma prática indócil, uma vontade sem governo, selvagem. Vontade não domesticável.