CENTRALASIA

O poema épico Centralásia é uma rota através do Tibet. Investiga o pensamento budista e o torce até certo ponto, revertendo-o, embora não rechace sua visão libertadora. Depois de tudo, o budismo é uma série de variações e matizes, ligados historicamente a diversos países e seitas. Meu poema inclui a caça de animais e a mera progressão através de condições angustiantes, por uma geografia que produz visões tectônicas e arquitetônicas. Inclui a amizade e o encontro erótico com um monge livre que vende cavalos aos grupos partidários tibetanos que combatem as forças chinesas invasoras, assim como alguns episódios dessa guerra endêmica. O que em tempos passados era exótico, nosso mundo global o aproxima. O que acontece no Tibet não é alheio à consciência de outros povos no planeta. A ocupação chinesa durou mais de meio século. Aparentemente, um milhão de tibetanos (de uma população de apenas sete milhões) sucumbiu na luta ou foi liquidado pelo ocupante violento. Mostrando uma crassa falta de respeito pela cultura tibetana, o ocupante destruiu quase todos os templos, monastérios e monumentos religiosos (seis mil deles). Uns poucos foram parcialmente reconstruídos pelos monges. Os chineses organizaram queimas de livros ancestrais tibetanos (podem ser vistos no YouTube). A diferença é que não eram livros impressos, mas manuscritos irrecuperáveis. Algo possivelmente imortal, a imago do teto do mundo, foi aniquilado, junto à autonomia de um povo vivo. Muitos tibetanos hoje em dia se imolam ateando-se fogo, como protesto radical ante as pressões do invasor. Dadas as duras condições dentro do território do Tibet, onde o dissenso pode ser expressado só ao risco de vida, a resistência tibetana é hoje antes de tudo um assunto internacional, uma consciência planetária, um fenômeno mundial de conectividade. Estende nossa sensibilidade ética a um contexto universal. Este poema é um ato de resistência.