AGÊNCIA GERAL DO SUICÍDIO E OUTROS EPITÁFIOS ESCOLHIDOS

Uma premissa fundamental do surrealismo é a busca da unidade, da superação de antinomias. Daí uma crítica que propositadamente confunde autor e obra, criação e vida. Semelhante crítica é praticada negativamente, pode-se dizer, com relação a Jacques Rigaut: não se fala mais de identidade de vida e obra, mas de morte e obra, ao se tratar do autor para quem o “Suicídio deve ser uma vocação”, que se denominava “O aventureiro suicida”; que trazia o suicídio na lapela e o antecipou obsessivamente em seus escritos. Aquele que, no dizer de André Breton, na Anthologie de l’humour noir, representou à perfeição o “dandismo eterno”, visto por Baudelaire como expressão da revolta e inconformismo de espíritos superiores, verdadeiros aristocratas. Antonin Artaud promoveu, sempre, o mesmo tipo de confusão proposital. Ao escrever sobre Gérard de Nerval, insistiu que se tratava de obra de um enforcado. Com razão: Nerval estreou relatando um enforcamento em “A mão encantada”, anunciou a própria morte em um de seus mais famosos poemas, “El desdichado”, e a reiterou em seu texto final, Aurélia. É possível separar as duas instâncias, vida (incluindo a morte) e obra? É claro que sim. Sem tudo aquilo que marca sua biografia, Nerval continuaria sendo um criador extraordinário. Mas vale a pena fazer a separação, adotar um formalismo puro? A mesma pergunta pode ser feita com relação a Rigaut, que Renato Canova nos traz tão bem, nesta tão necessária edição brasileira. O que sobra, sem o epílogo que ele mesmo preparou, sem a mitografia criada a partir dele, que teve a contribuição de Drieu la Rochelle (outro suicida) e Louis Malle? Bilhetes de um suicida, sem dúvida. Extraordinários bilhetes, peças literariamente brilhantes. Incluem reflexões sobra a relação entre literatura e vida, como estas: “Quem é este que não é Julien Sorel? Stendhal. / Quem é este que não é Nietzsche? Nietzsche. / Quem é este que não é Julieta? Shakespeare. / Quem é este que não é Sr. Teste? Valéry.” Paradoxos – mas o paradoxo pode ser um componente do valor literário. Através da morte, acabou por mostrar a identidade de arte e vida. Criou um implacável teorema; uma afirmação da fidelidade ao surrealismo por alguém que, em acréscimo a uma série de paradoxo, nunca esteve presente no surrealismo; mas que continua cada vez mais presente. Claudio Willer

R$ 39,93

Autor: JACQUES RIGAUT
Tradução: RENATO F. CANOVA
Prefácio: CLAUDIO WILLER

Origem: NACIONAL
Editora: LUMME EDITOR
Edição: 1
Ano: 2016/2019
Idioma: PORTUGUÊS
País de Produção: BRASIL
Altura: 18,00 cm
Largura: 12,00 cm
Peso 0,100 kg
Nº de Páginas: 104

Informação adicional

Peso 0.100 kg
Dimensões 0.7 × 12 × 18 cm