DESAUCTORAES

A poesia mattosiana vem sendo estudada em duas phases, “visual” e
“cega”, tendo como divisor de aguas a virada do seculo, quando o poeta
volta a versejar appós a perda da visão. Differentemente da
versilibrista phase visual, na cegueira o auctor adopta a forma fixa,
que, entre 1999 e 2012, inclue sonnettismo, chordelismo e trovismo, mas
de 2013 em deante ja se pode fallar numa poesia polystrophica, livre de
moldes rigidos e variando entre a decima, a oitava, a sextilha, a
quadra, a terça rhyma, o madrigal, a ode, a rhapsodia e,
particularmente, a reestrophação do sonnetto em quattro ou mais
quartettos, formato que Mattoso designa como “dissonnetto”.

Livros como POLITITICA, GRAPHOPHOBIA, HISTORIA DA CEGUEIRA,
DYSSYMMETRIA, THEATRO LYRICO, TROVAS NAS TREVAS, CRYSTALLINO
CRYPTOGRAMMA, AMOR CORRESPONDIDO, CIRCUMSTANCIAES, ININTELLECTUAES e
DYSPHILOSOPHAES são characteristicos desse laboratorio estichologico, no
qual o decasyllabo e a redondilha configuram variados eschemas
estrophicos e rhymaticos, dando signal verde ao experimentalismo sem
abdicar do rigor formal nem do rhythmo metrico, marcas registradas da
lyrica mattosiana.

Quanto à thematica, esta mantem-se fiel à biographia do auctor,
oscillando entre as contradictorias facetas da natureza humana,
benemalevolente, pacibelligerante, sadomasochista, tragicomica,
“apollineobarroca”, “arcadionysiaca” e “pornosiana”, como trocadilha
Mattoso.

Este volume typifica, portanto, uma “nova” poesia, comquanto “nihil
novi” seja seu signo. Todos os poemas aqui colligidos foram compostos
entre os mezes de agosto e novembro de 2019, ao sabor dos
accontescimentos e das impressões momentaneas, characterizando uma
authentica chronica de costumes, contraponctuada por registros
historicos e estheticos mais caros à formação do auctor. Em pleno seculo
XXI, as cantigas de excarneo e maldizer fazendo papel das cantigas de
amor ou de amigo…