BAGAROCAS

Os novos registros da provocação
Um tema infinito: esse das relações entre a língua falada, das ruas, e o repertório propriamente literário. Há, evidentemente, uma tensão entre o que se diz, especialmente em um modo mais desbocado, e o que se põe sobre o papel, destinando à publicação. Momentos de manifestação e ao mesmo tempo superação dessa tensão: a prosa de Jack Kerouac. Por exemplo, em Vanity of Duluoz, emendando a fala das ruas e a prosódia shakesperiana, harmonicamente, na mesma sequência. Em nossa literatura, evoco a consternação provocada por Roberto Piva em 1963, com Paranoia: um novo poeta, evidentemente culto, com referências a leituras e apresentando imagens poéticas refinadas; ao mesmo tempo. exibindo pesadas blasfêmias e impropriedades. Piva chocou. Hoje é referência. Leitura, entre outras, de Vinicius Comoti.
Este Bagarocas confirma as qualidades já evidenciadas no espantoso Rabicó de Puto e obras precedentes. Comoti escreve poesia como se proferisse imprecações. São anátemas na linguagem mais chã, mas que mantém a força poética, pela qualidade das suas imagens; por ser alguém capaz de “sonhar na vereda global no oco da lágrima”. Passa do contemplativo ao alucinado, da limpidez das “cadeiras vazias onduladas pela poeira” até os “pirarucus no asfalto ao vento”; ou, paroxismo, ao enxergar “as olheiras de nijinsky desenhadas no pátio da escola pública”.

R$ 36,41

Autor: vinicius comoti

Origem: NACIONAL
Editora: LUMME EDITOR
Edição: 1
Ano: 2020
Idioma: PORTUGUÊS
País de Produção: BRASIL
Altura: 21,00 cm
Largura: 14,00 cm
Peso:
Complemento: NENHUM
Nº de Páginas: 64